Baseado em minhas especulações, inspiradas em fatos, não teorias, e logico, com personagens baseadas possivelmente em voce, caro leitor. Mas fique atento que o tema é tratado um tanto quanto subjetivamente, usando metaforas e entrelinhas enganosas. Ou Tavez não... talvez...
Espero que gostem.
Ha Algo De Errado No Mundo
"Sou limpo, sem transgressões, sou um inocente; Nem há sequer iniquidade em mim"
Jó,33:9
Jó,33:9
Já soavam os sinos do meio dia na catedral quando ele acordou. Mas assim que abriu os olhos, descobrira algo terrível: Há algo errado no mundo hoje.
Era esperado de alguém dotado de mínima sapiência deduzir tamanho rombo nas entrelinhas da força motriz da humanidade. Havia algo errado no mundo, pressentiam, mas a questão sobre exatamente o que era velada; ninguém queria ser chamado de louco.
“Como pude somente perceber hoje?” Indagava-se ele “Mas que sensação horrenda... preciso saber o que há de errado... tenho de achar...” Assim dizendo em sua mente, jurou a si descobrir o que havia de errado, e pôs-se a pesquisar. Tão logo iniciou sua pesquisa, vozes o chamaram, de sombrios lugares abaixo, derretendo em seus ouvidos.
Primeiro imaginou que a esquizofrenia batia à porta, mas não, muito improvável; depois que fossem demônios, mas não tão perto duma casa de Deus; logo sobrou a única hipótese lógica – a qual sobrara por ultimo :os irmãos o chamavam da rua.Mas antes de confirmar sua hipótese, o telefone tocou. Era o bispo chamando-o pra o trabalho.
-Daniel, não demore, hoje tens de organizar as arrecadações para os carentes.
-Sim... Claro... Desculpe-me Augusto
-Sem problemas, mas se apresse.
Nunca na sua vida Daniel conhecera alguém tão controverso: Era austero e conservador, ao mesmo tempo manso e benevolente. Odiava as novidades tecnológicas do século XXI, mas mesmo assim fazia seu uso; “Um mal salutar” dizia ele. Mas nunca era boa opção confrontá-lo com alguma idéia oposta mesmo que diminutamente diferente, apesar de velho sua cabeça era dura como rocha.
Por capricho do destino, talvez, Daniel esquecera que havia algo errado no mundo ao se focar no trabalho. Um mal salutar? Veremos.
Ele separou as roupas doadas ao longo do mês por tamanho e sexo, lavou-as e passou; separou os brinquedos por idade e sexo, consertou os quebrados; preparou grande refeição para os famintos, e afinou o piano e os violões para os solitários. Por fim orou, rogando a Deus que permitisse ao glorioso dia porvir ser o preâmbulo dos necessitados a ganhar forças para lutar. Estava exaurido de forças, mas ao fechar os olhos ao sono, sua fé lhe deu asas para as memórias dos órfãos, mendigos, mães e pais pobres e todos os carentes transbordando em alegria e gratidão para com o padre e toda a comunidade da igreja - e claro, a benevolência de Deus. Foram queles sorrisos tão solenes de esperança que fizeram Daniel escolher uma carreira eclesiástica. Apesar de acreditar em amor independente de religião, viu certa força na instituição da igreja. Mas de que lhe adianta salvar-se por devoção e fé, se não poder guiar outrem à salvação?
Pensando nisto, Daniel dormiu, seu coração estava tão leve quanto os balões de hélio que enchera para as crianças. Aquele domingo iria ser glorioso.
Mas quando ele abriu os olhos no dia seguinte, sabia que havia algo errado no mundo.
Não obstante, estava atrasado pois o despertador quebrara, e não encontrava as chaves do carro, e nem os sapatos... Daniel pegou a carteira, botou um tênis velho, e foi ao ponto de ônibus. Pouco importava como, mas faria o possível para que tudo desse certo. O impossível era por conta de Deus. Este, que fizera do padre um homem insubjugável.
"Em verdade, nisto há uma mensagem para aquele que tem coração, que escuta atentamente e é testemunha da verdade."
Alcorão, Surah: 50:37
La estava Augusto, coordenando os outros padres e voluntarios. Foi só Daniel chegar, que foi recebido por dois velhos amigos.
-Dan! Quanto tempo cara? Como anda a vida?
-Vou bem Adam, trabalhando muito, e ai Andre?
Andre apenas cumprimentou, e sorriu, ele nunca fora de muitas palavras.
-Então, o que andam fazendo?
-Somos sócios, juntamos uma granas e abrimos uma empresa de papel higiênico.
Uma risada sarcástica ao fundo, em timbre bem conhecido. Era outro amigo, este, bem mais velho, havia estudado com Augusto no seminário, mas largou para virar andarilho por uns tempos, antes de voltar para fazer supletivo e incrivelmente, faculdade.
-Olha só Greg, como você ta conservado!
-Haha! Isso vindo de um infeliz que abriu uma empresa de papel higiênico!
O tom era zombeteiro, mas Greg não trocava apertos de mão, entre amigos de longa data apenas abraços - assim mesmo em Augusto, que pareceu ter sido pego de surpresa, mas nada fez.
Daniel conversou com Adam, Andre e Greg por cerca de meia hora, enquanto armava as barraquinhas e terminava de cozinhar. Quando a distribuição de alimentos começou, junto com a apresentação da minúscula orquestra composta pelos próprios carentes da oficina de musica, os outros tres estavam cada qual em sua função filantrópica. Até que a distribuição de brinquedos acabou, e as crianças incontroláveis precisavam de um pastor enquanto os pais escolhiam as roupas.
As funções não poderiam ser abandonadas, e o Irmão que distribuiu os brinquedos tinha uma cirurgia marcada. Mas como usual, arranjaram uma solução rápida: chamar mais alguém. Mas quem hábil no entreter de pequeninos era deles conhecido?
-Hum... devemos chamá-lo, Andre, você tem o numero dele – Diz Greg apontando para o celular do amigo.
-Ah... se você acha prudente – disse Andre, que pegou o celular e escreveu uma mensagem, que foi respondida em poucos minutos – Bem, ele não deve ter nada mais pra fazer, deve chegar em uns 5 minutos.
Tres minutos depois um homem incomum desce de uma moto, cumprimenta Greg e Andre, e se apresenta para Daniel e Adam
-Ola, sou hum... sou... ah...- E olhou para Greg, que fez sinal negativo com a cabeça – Aham...é... Bruno... podem me chamar de Bruno.
Era estranho demais, seus olhos transbordavam insanidade, mas era bem controlado, e logo que posto em frente as crianças um exímio palhaço de circo nasceu de sua imagem. Talvez tenham chamado o cara certo, pois as crianças logo o idolatraram, dando sossego aos seus pais.
Quando todos os atendidos pelos filantropos foram embora, os cinco aproveitaram as sobras de comida e alguma cerveja comprada num mercado próximo. E em meio as conversas, Bruno discretamente chegou ao pé do ouvido de Daniel, as palavras deixaram-no atônito:
-Há algo errado no mundo hoje, não achas?
“Sera que bebi demais?!” Perguntou-se o padre “Não, mas o que é esse cara? Jesus!”
Mas Bruno já havia ido embora, e seus amigos pareciam bem cansados, despediram-se, e foram todos para casa dormir.
Daniel sonhou com crianças em vestes medievais, e depois, renascentistas, e logo, apareceram crianças que aparentavam ser dos anos vinte. Todas voavam, atingiam alturas intangíveis e voltavam como homens grandes, estes com as asas na cabeça.
Acordou no dia seguinte mais confuso do que nunca, e abrasava-lhe o peito saber que, mais do que nunca, havia algo de errado no mundo.
"Mas os olhos dos ímpios desfalecerão, e para eles não haverá refúgio; a sua esperança será o expirar."
Jó 11:20
Jó 11:20
Quase dois meses passaram-se, era hora de iniciar a arrecadação novamente; o ciclo se repetiu, mas Daniel notara que todos haviam desanimado. Chegaram menos doações, haviam menos voluntários, e menos carentes. Ou aquilo era a prova irrefutável de que havia algo errado com o mundo, ou a classe media cresceu assombrosamente por volta de sessenta dias.
E la estava Bruno, isolado pois não haviam crianças suficientes para seu showzinho. Daniel chegou perto e interrogou.
-Então, você sabe o que há de errado no mundo?
-Se sei? Talvez...talvez... mas achei com custo, e não estou certo.
-Então o que é?
-Posso saber, mas posso mentir, e posso não saber.
-Olha filho, faça-me o favor e responda - Daniel já continha a ira.
Bruno tornou a ele, e Daniel observava seu próprio rosto nas lentes dos óculos de sol.
-Talvez ache a resposta em piscinas.
-Piscinas?!?!
-Sim, piscinas.
Daniel olhou para cima, mas ates de tornar a Bruno, viu que esta já estava em sua moto fugindo.
Sem solução, foi pesquisar piscinas. Por varias casas e lojas, olhava-as cheias, vazias, desmontadas, e ate numa fabrica – nada, sua cruzada se mostrava inútil.
Assim, já quase abandonando as esperanças, foi pra casa, e vendo TV, quase dormindo, ouviu a frase: “Seus olhos são como piscinas da alma”
“Pelo santíssimo Pai! Como Bruno pudera ser tão indireto e tão sacana?” Pensou ele, e já antes de entrar em pesquisas metafísicas ou anatômicas, ele foi dar uma volta, olhando nos olhos das pessoas, mas nada havia de errado neles; nem mesmo suas pesquisas apontaram anormalidade.
Mas no dia seguinte, acordou sabendo que havia algo errado no mundo.
"Estavas descuidado a respeito disto; porém, agora removemos o teu véu; tua vista será penetrante, nesse dia."
Alcorão, Surah Qaf 50:22
Alcorão, Surah Qaf 50:22
E como de costume, já no fim do ano, aprontava a festinha de caridade para os necessitados, mas ele parecia o único com animo para tanto. Nem mesmo Augusto; nem nenhum de seus amigos.
E a festa foi longa, o homem vestido de papai Noel havia chagado com a roupa do bom velinho no corpo, algo muito estranho, mesmo no natal... ou próximo a ele. Todos se regozijaram com a ceia, e o papai Noel não comeu nada.
Quando tudo terminou, limpando o lugar, o papai Noel chegou ao pé do ouvido de Daniel, e disse:
-Olhe nos meus olhos, depois nos de teus Irmãos
Os olhos dele brilhavam como se a esperança fosse uma chama dentro do globo; os olhos dos outros eram foscos. Surpreso, Daniel parou para refletir.
-Talvez, apenas talvez... as pessoas que lutam estejam caindo – disse o papai Noel, e tirou um espelho do bolso para Daniel contemplar os próprios olhos.
“Talvez... apenas... talvez...” Pensou Daniel, contemplando os próprios olhos“ Que Jesus abençoe a humanidade, há algo de errado no mundo...”
Fim