Talvez... apenas... talvez...


          Baseado em minhas especulações, inspiradas em fatos, não teorias, e logico, com personagens baseadas possivelmente em voce, caro leitor. Mas fique atento que o tema é tratado um tanto quanto subjetivamente, usando metaforas e entrelinhas enganosas. Ou Tavez não... talvez...
Espero que gostem.


Ha Algo De Errado No Mundo


"Sou limpo, sem transgressões, sou um inocente; Nem há sequer iniquidade em mim"
Jó,33:9

            Já soavam os sinos do meio dia na catedral quando ele acordou. Mas assim que abriu os olhos, descobrira algo terrível: Há algo errado no mundo hoje.
            Era esperado de alguém dotado de mínima sapiência deduzir tamanho rombo nas entrelinhas da força motriz da humanidade. Havia algo errado no mundo, pressentiam, mas a questão sobre exatamente o que era velada; ninguém queria ser chamado de louco.
            “Como pude somente perceber hoje?” Indagava-se ele “Mas que sensação horrenda... preciso saber o que há de errado... tenho de achar...” Assim dizendo em sua mente, jurou a si descobrir o que havia de errado, e pôs-se a pesquisar. Tão logo iniciou sua pesquisa, vozes o chamaram, de sombrios lugares abaixo, derretendo em seus ouvidos.
            Primeiro imaginou que a esquizofrenia batia à porta, mas não, muito improvável; depois que fossem demônios, mas não tão perto duma casa de Deus; logo sobrou a única hipótese lógica – a qual sobrara por ultimo :os irmãos o chamavam da rua.Mas antes de confirmar sua hipótese, o telefone tocou. Era o bispo chamando-o pra o trabalho.
            -Daniel, não demore, hoje tens de organizar as arrecadações para os carentes.
            -Sim... Claro... Desculpe-me Augusto
            -Sem problemas, mas se apresse.
            Nunca na sua vida Daniel conhecera alguém tão controverso: Era austero e conservador, ao mesmo tempo manso e benevolente. Odiava as novidades tecnológicas do século XXI, mas mesmo assim fazia seu uso; “Um mal salutar” dizia ele. Mas nunca era boa opção confrontá-lo com alguma idéia oposta mesmo que diminutamente diferente, apesar de velho sua cabeça era dura como rocha.
            Por capricho do destino, talvez, Daniel esquecera que havia algo errado no mundo ao se focar no trabalho. Um mal salutar? Veremos.
            Ele separou as roupas doadas ao longo do mês por tamanho e sexo, lavou-as e passou; separou os brinquedos por idade e sexo, consertou os quebrados; preparou grande refeição para os famintos, e afinou o piano e os violões para os solitários. Por fim orou, rogando a Deus que permitisse ao glorioso dia porvir ser o preâmbulo dos necessitados a ganhar forças para lutar. Estava exaurido de forças, mas ao fechar os olhos ao sono, sua fé lhe deu asas para as memórias dos órfãos, mendigos, mães e pais pobres e todos os carentes transbordando em alegria e gratidão para com o padre e toda a comunidade da igreja - e claro, a benevolência de Deus. Foram queles sorrisos tão solenes de esperança que fizeram Daniel escolher uma carreira eclesiástica. Apesar de acreditar em amor independente de religião, viu certa força na instituição da igreja. Mas de que lhe adianta salvar-se por devoção e fé, se não poder guiar outrem à salvação?
            Pensando nisto, Daniel dormiu, seu coração estava tão leve quanto os balões de hélio que enchera para as crianças. Aquele domingo iria ser glorioso.
Mas quando ele abriu os olhos no dia seguinte, sabia que havia algo errado no mundo.
            Não obstante, estava atrasado pois o despertador quebrara, e não encontrava as chaves do carro, e nem os sapatos... Daniel pegou a carteira, botou um tênis velho, e foi ao ponto de ônibus. Pouco importava como, mas faria o possível para que tudo desse certo. O impossível era por conta de Deus. Este, que fizera do padre um homem insubjugável.

"Em verdade, nisto há uma mensagem para aquele que tem coração, que escuta atentamente e é testemunha da verdade."
Alcorão, Surah: 50:37

            La estava Augusto, coordenando os outros padres e voluntarios. Foi só Daniel chegar, que foi recebido por dois velhos amigos.
            -Dan! Quanto tempo cara? Como anda a vida?
            -Vou bem Adam, trabalhando muito, e ai Andre?
            Andre apenas cumprimentou, e sorriu, ele nunca fora de muitas palavras.
            -Então, o que andam fazendo?
            -Somos sócios, juntamos uma granas e abrimos uma empresa de papel higiênico.
            Uma risada sarcástica ao fundo, em timbre bem conhecido. Era outro amigo, este, bem mais velho, havia estudado com Augusto no seminário, mas largou para virar andarilho por uns tempos, antes de voltar para fazer supletivo e incrivelmente, faculdade.
            -Olha só Greg, como você ta conservado!
            -Haha! Isso vindo de um infeliz que abriu uma empresa de papel higiênico!
            O tom era zombeteiro, mas Greg não trocava apertos de mão, entre amigos de longa data apenas abraços - assim mesmo em Augusto, que pareceu ter sido pego de surpresa, mas nada fez.
Daniel conversou com Adam, Andre e Greg por cerca de meia hora, enquanto armava as barraquinhas e terminava de cozinhar. Quando a distribuição de alimentos começou, junto com a apresentação da minúscula orquestra composta pelos próprios carentes da oficina de musica, os outros tres estavam cada qual em sua função filantrópica. Até que a distribuição de brinquedos acabou, e as crianças incontroláveis precisavam de um pastor enquanto os pais escolhiam as roupas.
As funções não poderiam ser abandonadas, e o Irmão que distribuiu os brinquedos tinha uma cirurgia marcada. Mas como usual, arranjaram uma solução rápida: chamar mais alguém. Mas quem hábil no entreter de pequeninos era deles conhecido?
-Hum... devemos chamá-lo, Andre, você tem o numero dele – Diz Greg apontando para o celular do amigo.
-Ah... se você acha prudente – disse Andre, que pegou o celular e escreveu uma mensagem, que foi respondida em poucos minutos – Bem, ele não deve ter nada mais pra fazer, deve chegar em uns 5 minutos.
Tres minutos depois um homem incomum desce de uma moto, cumprimenta Greg e Andre, e se apresenta para Daniel e Adam
-Ola, sou hum... sou... ah...- E olhou para Greg, que fez sinal negativo com a cabeça – Aham...é... Bruno... podem me chamar de Bruno.
Era estranho demais, seus olhos transbordavam insanidade, mas era bem controlado, e logo que posto em frente as crianças um exímio palhaço de circo nasceu de sua imagem. Talvez tenham chamado o cara certo, pois as crianças logo o idolatraram, dando sossego aos seus pais.
Quando todos os atendidos pelos filantropos foram embora, os cinco aproveitaram as sobras de comida e alguma cerveja comprada num mercado próximo. E em meio as conversas, Bruno discretamente chegou ao pé do ouvido de Daniel, as palavras deixaram-no atônito:
-Há algo errado no mundo hoje, não achas?
“Sera que bebi demais?!” Perguntou-se o padre “Não, mas o que é esse cara? Jesus!”
Mas Bruno já havia ido embora, e seus amigos pareciam bem cansados, despediram-se, e foram todos para casa dormir.
Daniel sonhou com crianças em vestes medievais, e depois, renascentistas, e logo, apareceram crianças que aparentavam ser dos anos vinte. Todas voavam, atingiam alturas intangíveis e voltavam como homens grandes, estes com as asas na cabeça.
Acordou no dia seguinte mais confuso do que nunca, e abrasava-lhe o peito saber que, mais do que nunca, havia algo de errado no mundo.

"Mas os olhos dos ímpios desfalecerão, e para eles não haverá refúgio; a sua esperança será o expirar."
Jó 11:20

Quase dois meses passaram-se, era hora de iniciar a arrecadação novamente; o ciclo se repetiu, mas Daniel notara que todos haviam desanimado. Chegaram menos doações, haviam menos voluntários, e menos carentes. Ou aquilo era a prova irrefutável de que havia algo errado com o mundo, ou a classe media cresceu assombrosamente por volta de sessenta dias.
E la estava Bruno, isolado pois não haviam crianças suficientes para seu showzinho. Daniel chegou perto e interrogou.
-Então, você sabe o que há de errado no mundo?
-Se sei? Talvez...talvez... mas achei com custo, e não estou certo.
-Então o que é?
-Posso saber, mas posso mentir, e posso não saber.
-Olha filho, faça-me o favor e responda - Daniel já continha a ira.
Bruno tornou a ele, e Daniel observava seu próprio rosto nas lentes dos óculos de sol.
-Talvez ache a resposta em piscinas.
-Piscinas?!?!
-Sim, piscinas.
Daniel olhou para cima, mas ates de tornar a Bruno, viu que esta já estava em sua moto fugindo.
Sem solução, foi pesquisar piscinas. Por varias casas e lojas, olhava-as cheias, vazias, desmontadas, e ate numa fabrica – nada, sua cruzada se mostrava inútil.
Assim, já quase abandonando as esperanças, foi pra casa, e vendo TV, quase dormindo, ouviu a frase: “Seus olhos são como piscinas da alma”
“Pelo santíssimo Pai! Como Bruno pudera ser tão indireto e tão sacana?” Pensou ele, e já antes de entrar em pesquisas metafísicas ou anatômicas, ele foi dar uma volta, olhando nos olhos das pessoas, mas nada havia de errado neles; nem mesmo suas pesquisas apontaram anormalidade.
Mas no dia seguinte, acordou sabendo que havia algo errado no mundo.

"Estavas descuidado a respeito disto; porém, agora removemos o teu véu; tua vista será penetrante, nesse dia."
Alcorão, Surah Qaf 50:22
E como de costume, já no fim do ano, aprontava a festinha de caridade para os necessitados, mas ele parecia o único com animo para tanto. Nem mesmo Augusto; nem nenhum de seus amigos.
E a festa foi longa, o homem vestido de papai Noel havia chagado com a roupa do bom velinho no corpo, algo muito estranho, mesmo no natal... ou próximo a ele. Todos se regozijaram com a ceia, e o papai Noel não comeu nada.
Quando tudo terminou, limpando o lugar, o papai Noel chegou ao pé do ouvido de Daniel, e disse:
-Olhe nos meus olhos, depois nos de teus Irmãos
Os olhos dele brilhavam como se a esperança fosse uma chama dentro do globo; os olhos dos outros eram foscos. Surpreso, Daniel parou para refletir.
-Talvez, apenas talvez... as pessoas que lutam estejam caindo – disse o papai Noel, e tirou um espelho do bolso para Daniel contemplar os próprios olhos.
 “Talvez... apenas... talvez...” Pensou Daniel, contemplando os próprios olhos“ Que Jesus abençoe a humanidade, há algo de errado no mundo...”
Fim

Garçom! um mito por favor...

            Aew segundo post, e tenho uma historia interessante. Criei este mito pensando nas Historias para live action da Gladius swordplay, mas isso seria parte apenas de parte da mitologia de um dos povos (aka: Clã wolfstrider).
            Espero sinceramente que gostem, estou aberto a criticas e correções.
\o/

Caçador Da Paixão - O mito do Outono


    Howard estava com um de seus discípulos, Outunno, na orla da floresta, ensinando-lhe a arte da caça, mas o aprendiz esquecera as flechas em casa, nem sequer notara que o cervo apareceu.

-Esta a passar, viste?

-Nonde mestre? À sombra d’arvore?

-Qual outra conífera estas a ver?

-Arco sem flechas, que posso fazer?

-Põe-te logo a correr!

    Outunno ainda era jovem, e disparou em direção à única sombra que viu embrenhando-se na mata. Carregava consigo apenas uma faca, imaginando o que poderia fazer se, por um milagre, alcançasse o cervo.

    Andou ate que se perdeu entre sombras e arvores pútridas no fundo da floresta. Quando começou a ouvir risadas infantis, lúdicas, e acima de tudo, macabras.

    “Ao capricho faérico não posso ceder, pois no selvagem venho a morrer. Aos olhos do mestre serei desperdício, e se morro sem ela o inferno é hospício” Pensou Outunno naquele abismo de medo. Mas não houve tempo para pensar alem, e uma ninfa lhe aparece em vestido de gala, seus olhos lembravam os da mãe lua, sua Deusa padroeira, mas esta era deveras maldita, pois o fez de coração valente e braços fracos.

-Como te chamas, ó jovem caçador?

-A ti não conto, madrinha da dor.

-Lhe mostro a saída, que o sol vai poer.

-E o que devo, em troca fazer?

-Contai-me teu nome, vamo-nos deitar

-Pareço-te louco? Queres me enganar!

-Há! Entendo! Tu és eunuco!

-Sou jovem sabido, ai tem trabuco!

-Sou como o macuco; Beleza viva, tão sozinha...

-A mim não enganas. Largai a ladainha!

    Ela simplesmente sumiu nas sombras, deixando Outunno para trás tempo suficiente para ele decidir ir a seu encalço. Chegando as margens de um rio, onde ela se sentava, e a lua já caminhava pelo céu.

-Perdoa a impiedade, mas quero viver.

-Esta perdoado, que vamos fazer?

-Ouviste o que digo? E Madre me observa.

-Agarra-me na relva e te tiro do mato.

-O rio levar-me-á, salvo com muito recato.

    Assim Outunno seguiu seu caminho às margens do rio, iluminado pela lua ate chegar a cidade, onde já queimava o sol apino.

    Em casa, sua amada orgulhou-se de sua fidelidade, bem como o mestre Howard, também seus amigos. De fato, não era qualquer um que resistia aos encantos de uma ninfa. Menos Augusto, que discutia com o líder do clã:

-Ora, sodomiza-la eu ia, e boto-me a correr!

-Somente iria mais longe se perder.

-Chegaria no rio, e assim me salvar.

-A lembrança dela te faria adejar.

    E no dia seguinte, Outunno perdeu sua amada, ela casou-se com um nobre de outras terras, algo quase que tão impossível para uma família de artesãos, que ele simplesmente se despediu dela solenemente, desejando felicidade.

-Sou agora o céu noturno onde não brilham estrelas, vazio nonde construirei meu asilo. Seja feliz! Alcance jubilo!


    O tempo passou e seu coração foi curado. Mas quase chegando a temporada de caça, Howard notou que sei discípulo havia mudado. E no treino cervo quase passou desapercebido.

-Esta a passar, viste?

-Derramarei teu sangue à unha! A terra rubla será testemunha!

-Não corra tolo, hoje tem flechas!

-Mestre, minha fúria encontrou uma brecha!

    Ele correu atrás do cervo, adentrou na floresta, e o impulso da sua ira lhe lançou sobre o lombo. Assim ele o enforcou, mas o cervo parecia que ira voltar a si, então com a faca arrancou-lhe as tripas. O sangue somente acrescentou lenha ao seu fogo, e com as mãos começou a limpar a carcaça das vísceras, e brincar com estas como se fossem escravos sob comando de um tirano. A ninfa apareceu.

-Pare já com esta brutalidade!

-Nunca! Assim esbanjo virilidade

-Parece-me louco infantil.

-Ao que devo contigo, ó dama vil?

-Nada, te vi passando, e vou-me ao rio.

-Esperai... vou contigo.

-Como? Não lhe sou perigo?

-Preciso de motivo para riso...

-Vamos então, e largai o juízo

    Ao contrario do que pode parecer, eles apenas conversaram longas horas, e depois ela o ensinou o caminho de volta. Com a carne do cervo e a aprovação do mestre, Outunno agora poderia sair para caçar sozinho. Exímio predador, ele pegava a presa e ia conversar com a ninfa, todos os dias, mesmo que ele não tivesse que caçar.

    Assim ele se apaixonou: ela tinha toda a perfeição que ele poderia querer... tão bela, tão carinhosa, tão inteligente e tão verdadeira, como ele poderia ter sido tão tolo ?

    “Talvez ela seja uma filha da lua, uma graça para mim: Tão pura! Protótipo de anjo forjado de carne faérica... talvez...” E assim um sonoro ‘talvez’ ecoou por sua alma. Até que, na ultima noite da primavera, ele a beijou, e selou seu destino.

    Nunca se deitou com ela, ele queria suas almas entrelaçadas, e não somente seu corpo - isso seria conseqüência, e quando voltou para a floresta na noite seguinte, não a viu. Nem no outro dia, e nem no próximo. No quarto dia, já em pleno verão, viu a silhueta dela no horizonte, com outro homem. Desespero.

    Ele fugiu, decidido a nunca mais botar o pé naquela floresta maldita, ou pelo contrario, caçar cruelmente todas as suas criaturas e botar fogo no resto, só para ver as ninfas, fadas, e o que mais tivesse la ficaram sem casa e desoladas. Sulfúrico e queimando, cuspindo para fora do sol de verão, sua integridade fora queimada as cinzas.

    No equinócio de primavera, ele entrou novamente na floresta, e encontrou a ninfa.

-Tu me amas?

-Não, não te amo

-Mas assim era.

-Não era, e não amo ninguém

-Mas a ti só farei bem! Tens outro amante, não tem?

-Já disse, não sois vos, somente ninguém

Ele pensou em falar do que viu, mas ela não sabia que ele sabia... ele preferiu calar-se.

-Que sejas feliz, em pranto me vou pra nunca voltar

-Esperai! Seja meu amigo, somos tão parecidos

-Ser amigo não é bastante, a mim seria humilhante.

-Ora, tu não eras o viril? Como se ilude tão infantil?

-Almejo teu amor tão terno... agora vou viver meu inferno.

-Fique, fique, não se vá só porque não te amo.

-Me vou, e que a lua me proteja do sofrimento profano.

    Ele foi embora sem a luz da lua, nada ganharia ali. Passou a caçar em outros lugares, e nunca dividiu sua agonia com ninguém. Sua tristeza não era da conta de outrem.

    Mas sempre que podia, antes da neve, ia a floresta e sentava-se nas margens do rio, onde destruía toda criatura que ali passasse, e manchava as folhas da arvores de sangue.Quando chegava o inverno, ele definhava um pouco mais em sua casa, e na primavera, avistava a ninfa ao longe na floresta, tentava falar com ela, mas sem resposta, a lamuria o fazia matar novamente as criaturas e espalhar seu sangue pelas arvores, que morriam antes do inverno. A lua já não brilhava sobre ele, ate que um dia, quando os anos já lhe dilaceraram o corpo, um sábio lhe falou de ninfas.

-Existem três tipos de ninfas. A maioria só quer sua carne, em ambos os sentidos; estas querem sua morte. Existem aquelas que se casam com homens, por vezes tem filhos; estas querem sua vida...

    Ele fez uma pausa...

-E têm aquelas, as piores... Aquelas que lhe deixam vivo, mas livres para viver sua vida... Estas querem sua alma.

    Outunno encarou a lua, que lhe tocava com seus raios pálidos e gélidos.

-Minh’alma se perdeu, quando outras a ninfa ganhou. Sem corpo talvez eu viva, mas sem amor... da felicidade a vida me priva...

-Como este amor ainda vos priva?

-Esse amor é lembrança, de sonhos sem fim, fé iterativa, que tenho em mim.

    Quando Outunno morreu, tornou-se um fantasma na floresta, atormentado a sempre procurar a ninfa, que ele avista na primavera. Enchendo-se assim de tristeza, ele drena o sangue das criaturas e viajantes apaixonados perdidos na floresta, e lava a mata em tinta escarlate.

    Quem sabe um dia, o caçador pegara sua presa? A terra rubla será testemunha; por isso a melhor estação de caça chamamos de outono, e não podemos caçar com paixão para não tornamo-nos presas de Outunno... que podemos ouvir chorando, quando as folhas morbidas caem.


Fim

Primeiro Post! - Os métodos do Dr.Helsinki


        O primeiro post dessa bagaça, e antes de mais nada gostaria de agradecer o Rony pela idéia de marketing (que eu copiei na cara dura xD). Como dito na descrição, as personagens serão baseadas em pessoas que conheço, assim não criarei nenhuma, será tão somente uma simples emulação da minha interpretação de vocês.
        Claro que os nomes serão mudados e mantidos em segredo, talvez vocês consigam adivinhar quem são, mas nunca direi a resposta - mistérios vivem mais que mentiras e verdades. E claro, os nomes não estão ai sem motivos.
        Chega de papo, apesar de eu conhecer a preguiça mental do brasileiro em frente a um texto, agradeço a quem teve coragem de ler até aqui. E se por ventura alguma alma ler até o fim, aceito criticas e correções gramaticais e /ou ortograficas.
Vamos logo à história, de minha autoria, portanto se copiar me de os créditos, vá plagiar sua mãe. : D



Os métodos do Dr. Helsinki – Parte 1


Henrique já não sabia o que fazer. Para seus amigos aparentava normalidade, mas a angustia que abatia seu coração nunca vazara por sua mascara de bem estar. Ele estava destruído por dentro, e não gostaria nem de longe de saber qual seria o julgamento de seus amigos. Os devaneios eram constantes.
-Acorda seu imbecil! - Greg urrava impaciente - É sua vez de jogar!
Henrique pegou o peão mais adiantado e o moveu mais uma casa.
-Est un 'en passant' ! - Greg comemorou com seu francês macarrônico - É a primeira vez que faço isso tão rápido!
E moveu seu peão, que estava lado a lado com o de Herique, para a posição em que ele estava antes, e removeu a peça do jogo.
-O que é isso?? Nunca vi essa jogada! - exclamou Luis, que ate o presente momento ignorava o jogo nos braços de Ana, e nos tragos de cerveja.
-Pois é, li tudo num livro... Manual De Xadrez, recomendo a leitura mas não empresto o meu porque esta gasto.
-Larga de trapaça! – Exclama Luis em tom zombeteiro, mas ao ver que Henrique pairava num universo autista paralelo, segurou o riso – Ah deixa quieto, ele não ta nesse plano.
-Rique, você ta bem? – perguntou Ana, meio que com desinteresse.
Ele não respondeu.
-Acorda cara! - disse Greg enquanto cutucava o ombro do catatônico
-Hã? O que? Ah... to bem sim – e a mentira estava pintada nua sobre sua mascara.
-Já pode falar o que houve cara – Respondeu Greg com olhos inocentes.
A contragosto, Henrique explicou seu dilema: terminara um  namoro de quase um ano e meio, ela havia tomado a atitude e ele tinha um fio de esperança imaginária de que era uma fase da relação, que voltariam logo. Mas não ocorreu. Henrique agora continha seus prantos.
-Ah! Relaxa! Amanha você já ta com outra mais gata! – Afirmou Luis com veemência.
E cortando o ar como um cutelo de açougueiro sujo, Ana acerta a mão com vigor nas costas dele.
-Mais respeito ta?
-Ah tanto faz, vou dar uma volta – Luis saiu seguido por Ana. Greg encarava Henrique com um ar cansado.
Cansado pois o assunto que viria a se seguir era sempre evitado por ele a qualquer custo, apenas almejava nunca ter tido experiências tão efêmeras. Greg sempre quis ser feito de pedra, mas se velhos não são, quem dirá os jovens.
-Rique, você já leu Dom Casmurro?
-Não, devia ter , mas não tive tempo.
-A primeira coisa importante que se aprende com a história é que as duvidas param nossas vidas, ou seja, ninguém se sustenta em cima do muro.
-E a segunda?
-As mulheres carregam uma boa vontade hipócrita... e sustentam sorrisos fraudulentos.
-Sim mas... você não ta dando aula agora Greg, pode falar normal porque nem todo mundo é  acadêmico ok?
Greg suspirou e olhou para o chão, depois pegou a carteira de couro falso e revirou todos os compartimentos, até achar um cartão, velho e gasto. O encarou por alguns instantes, e entregou a Henrique.
-Você tem duas opções obvias: ou você vai atrás dela, ou esquece de vez. Se, por um acaso quiser esquecer e não conseguir, vê se liga pra esse terapeuta. É um amigo meu da república, nos tempos da faculdade, fala que você é um conhecido meu e ele não vai cobrar caro...

Algumas semanas e varias garrafas depois, Henrique desistiu da bebedeira, e procurou o cartão do tal terapeuta. De um lado havia apenas um telefone, do outro, uma macha de sangue sobre as letras, onde se lia:
Dr. Alberto Helsinki, Psicoterapeuta.
“O sangue deve ser alguma porquisse do Greg”, pensou ele, enquanto ia de encontro ao telefone com o peito pressurizado por forças quiméricas. Ligou, e foi atendido rapidamente. A secretaria tinha uma voz mansa e sedutora, como se fosse uma prostituta em plena ação, e logo na primeira data que ele perguntou por vaga, ela respondeu que não havia paciente algum para aquele dia. Aceitou de prontidão.
Chegada a data, Henrique se dirigiu ao endereço fornecido, num prédio comercial bem burguês, todo luxuoso e cheio de executivos velhos e médicos da alta sociedade. Imaginou que, se Greg havia se consultado com ele, não poderia ser nesse lugar, ele odeia gente esnobe.
Estacionou numa vaga reservada à pacientes, passou discretamente pelos corredores e elevadores, sem nem olhar nos olhos de ninguém ate chegar na sala 150 do sexto andar.
Quando entrou, notou a belíssima e sedutora secretaria numa espécie de sala de espera. cabelos negros, bronzeada, corpo escultural, um verdadeiro catalisador de libido ambulante. O resto da sala era detalhe. Mas antes de chegar perto dela, a outra porta se abriu, e um homem de cabelos razoavelmente compridos, com um bigode e cavanhaque, lhe encarou como uma criança encara o presente no natal.Antes de esboçar qualquer reação, o presumível Dr. Helsinki o cumprimentou.
-Olá!- disse o Doutor estendendo a mão à Henrique- Você deve ser o paciente de hoje não? Amigo de Greg né?
Inicialmente ele era um retrato mal pintado de Greg
-Sim, sou eu. Henrique Borges, marquei consulta... – todos os seus pensamentos voavam, tudo que seu cérebro processava eram as possibilidades de prazer erótico com aquela secretaria. 
-Vamos! Vamos! Entre e sente-se no divã! – Respondeu animadamente o doutor antes que alguém percebesse que Henrique não estava em si.
A seção correu normalmente, Helsinki perguntou sobre a infância, adolescência, sonhos, do que tinha medo e etc. Mas nunca perguntou sobre a vida amorosa ou sexual de Henrique. Ao fim da seção marcou outra para semana seguinte.
E assim foi durante dois meses, as sessões eram cada vez mais chatas, e o doutor demorava cada vez mais para sair de seu consultório, o que era bom para Henrique, que comia a secretaria com os olhos.
No inicio do terceiro mês, quando ele chegou na sala de espera, a secretária disse que o doutor estava com outro paciente, e poderia demorar.Henrique sorriu, e tentou puxar papo com ela.
-Tem feito frio ultimamente né?
-Acho que esta bem quente – ela respondeu secamente, sem tirar os olhos dos papeis em que escrevia.
-Você acha que vai chover?
-Não.
Uns instantes de silêncio, tudo que se ouvia era o barulho do ar condicionado.
-Prédio bonito esse né?
-Acho ele feio.
Na sua mente, Henrique gostaria de seguir a lógica de um filme pornográfico, “Oi”, “Ola”, “Tudo bem?”, “Tudo e com você?”,”Bem também... vamos fazer sexo?” , “Claro!”. Mas ela não demonstrava nenhum interesse, e sim indiferença.
Henrique desistiu, e começou a ficar nervoso na medida em que o ar mudava de cheiro, até que subitamente sentiu uma picada vinda da cadeira à sua coxa. Ele achou aquilo estranho, mas não se moveu. Até começar a surtar de raiva.
-Abre essa porcaria de porta! – Ele berrava enquanto chutava a porta do consultório.- Ah esquece, vou embora daqui.
A saída estava trancada. Henrique urrou como se fosse um vulcão de ódio em erupção, olho em volta, e viu a secretaria o encarando como se ele não fosse o primeiro a surtar ali, esperando uma camisa de força surgir do nada para prendê-lo.
Mas o controle da sua mente estava quebrado: ele tirou o cinto, agarrou a secretária, e não encontrou resistência alguma.
Meia hora depois a porta do escritório se abre.
Sai uma loira espetacular, tão fantástica quanto a secretaria, que, já vestida novamente, sai junto com ela. Logo depois aparece o doutor, somente de calças, com um charuto e uma garrafa de uísque.
-Quer um? – disse ele oferecendo um charuto para Henrique.
-Obrigado, não fumo
-Bebe?- diz ele enchendo um copo.
-Claro
E ficaram ali, cada um em um canto da sala, bebendo, com suas mentes em lugares inimagináveis, até que o silêncio foi quebrado pelo Doutor.
-E então, já esqueceu a vadia da sua ex?
Até aquele presente momento, Henrique não havia pensado nela, desde que entrou na sala de espera. Nem em nenhum momento naquela sala. Ele não respondeu.
-Sabe, as sessões foram todas inúteis, a terapia você fazia aqui na sala de espera mesmo.
Henrique arregalou os olhos e encarou o doutor com uma cara de espanto. Este apenas riu, tragou o charuto lentamente, e respondeu:
-Você sentiu uma picada quando estava sentado, era a injeção de um estimulante, podia não ser necessário mas você tinha que pegar safada, e não o contrario. Meu método funciona com cerca de 90% dos homens...
-Mas... o...  Greg , ele sabe disso?
-O Greg? Ta louco? Não sabe, e essa terapia não funcionaria nele, esta naqueles 10%
O doutor Helsiki tragou novamente, deu uma grande golada, e encarando o chão com os olhos semicerrados, continuou
-A propósito, sua puta me custou 200 reais pra cada sessão e mais 3000 por essa ultima...
Henrique ficou boquiaberto, encarando o doutor, que não tirou os olhos do chão. Parecia que ele havia previsto isso, e terminou:
-É meu, puta de luxo de cidade grande, e esta na sua conta!


Fim


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